sábado, 12 de dezembro de 2009

Cerrado: A saga de sequestrar CO2 e ainda ter lucro

Barrocas, voçorocas e buracos. Poeirão na época da seca e sol abrasador. Alagados e poças em terrenos compactados no tempo das chuvas. Solo infértil, tomado por ervas daninhas, desabitado. Rios barrentos, nascentes desaparecidas.

O mau uso da terra pode resultar no cenário desolador descrito. Mas se o homem destrói, devastando florestas, ele também desenvolveu formas de melhorar seu ambiente e produzir alimentos.

E aí começa a saga de agricultores do interior do país, apoiados pela técnica do plantio direto na palha, que evita o uso do arado e o revolvimento da terra, pondo um fim à erosão na maioria das lavouras brasileiras.

Trata-se de uma tecnologia já bastante experimentada, na qual a semeadura é feita sobre os resíduos de uma colheita anterior, matéria orgânica essa que ao se decompor no solo fixa o gás carbônico que antes foi sequestrado da atmosfera por meio da fotossíntese. E que em tempos de aquecimento global ganha nova dimensão.

"O sistema de plantio direto na agricultura sequestra mais carbono que uma mata estabilizada. Fixa até 1.200 quilos de gás carbônico por hectare. A agricultura tem um balanço favorável, ela é um atenuador do efeito estufa. Já em uma mata o balanço do carbono está no zero a zero", declarou o produtor rural Egídio Raul Vuaden, de Lucas do Rio Verde (MT), situado em uma região em que boa parte da vegetação de Cerrado já foi modificada pela atividade agrícola.

Apesar de o plantio direto ter começado na década de 70 no Brasil, o governo brasileiro vê nele um grande potencial ainda a ser explorado, incluindo agora a sua capacidade de sequestrar gases causadores do efeito estufa.

Pela proposta levada à conferência de clima de Copenhague, o Brasil avalia que técnicas como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária, capazes de recuperar pastagens degradadas e ainda evitar novos desflorestamentos, podem reduzir as emissões de gases do efeito estufa em cerca de 170 milhões de toneladas ao ano, em um prazo de dez anos.

Isso representa quase 20 por cento do que o país quer reduzir até 2020 das emissões, que no Brasil estão relacionadas principalmente a atividades ligadas à mudança no uso da terra, como queimadas e desmatamentos.

Nesse contexto, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, passou a defender crédito subsidiado no próximo Plano Safra para agricultores que utilizem técnicas ambientalmente corretas, e já estima um custo bilionário para impulsionar o uso da tecnologia.

O PESO DO CENTRO-OESTE

Dos 47 milhões de hectares ocupados pelas plantações de grãos no Brasil, 25 milhões de hectares das lavouras são cultivadas com o plantio direto, e a maior parte da técnica está concentrada na região Sul, segundo o Ministério da Agricultura.

De outro lado, no Centro-Oeste, a maior região produtora de soja e gado do Brasil, há grande espaço para se avançar no que muitos chamam de "plantio direto verdadeiro", com a introdução do capim braquiária no processo de produção.

A cobertura do solo com a braquiária, em vez da já tradicional utilização do milho ou do milheto, é considerada mais apropriada para Estados como o Mato Grosso, onde as chuvas e o calor são mais intensos, decompondo rapidamente a matéria orgânica deixada no solo de uma safra para a outra.

"A degradação da palha é muito mais rápida no Mato Grosso. Já a palha da braquiária tem muito carbono e não se degrada tão facilmente. O sistema de braquiária tem dado mais resultado", afirmou Alfeo Trecente, presidente do Clube Amigos da Terra (CAT) de Sorriso (MT), o maior município produtor de soja do Brasil.

Com uma palhada mais densa, são maiores as possibilidades de se obter uma boa produtividade agrícola, uma vez que a terra é capaz de reter a umidade por mais tempo; forma-se menos poeira, o que reduz a dispersão de pragas, diminuindo consequentemente a aplicação de defensivos. E pela menor lixiviação do solo pela água, os nutrientes permanecem na terra, permitindo que o agricultor economize com adubos.

"A tecnologia de conservação de solo é boa para qualquer região, porém no Centro-Oeste há uma porcentagem de solos excessivamente arenosos. E o plantio direto viabilizou a utilização desses solos", destacou Fernando Cardoso, presidente da Fundação Agrisus, que busca disseminar práticas agrícolas que conduzam à sustentabilidade para o futuro.

"Se utilizássemos o modelo antigo de produção, já teríamos que ter ido embora daqui, ninguém mais conseguiria produzir", confirmou o agricultor Vuaden, referindo-se à erosão da terra que seria gerada pelo plantio convencional, com o arado.

O FUTURO DA SAGA

Em Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, ainda são poucos os produtores que cultivam a oleaginosa em consórcio com a braquiária e o gado. A maioria usa o milho ou o milheto, tanto que o Estado obteve uma safra recorde do cereal em 2009.

Mas o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas tem muito a colaborar com o Estado não só em termos ambientais, evitando o desmatamento, como financeiramente falando.

Com o plantio de soja no verão e da braquiária em consórcio com o milho, para a colheita no inverno, é possível obter uma terceira fonte de renda na mesma área, com gado pastando naquele capim que vai crescer ainda mais após a colheita do cereal.

"A soja deixa muito nitrogênio na terra, e a gramínea é tarada por nitrogênio. Aí o boi entra nessa área para engorda, só fica 90 dias", disse Trecente, lembrando que depois desse período seria possível completar o ciclo plantando soja novamente na área.

No Estado já há quem adote esse sistema de integração lavoura-pecuária, como o agricultor Darcy Ferrarin, de Sorriso, que diz obter uma produtividade da soja superior a 60 sacas por hectare e economizar 50 por cento com fertilizantes.

Criando cinco cabeças de boi por hectare, contra uma média da pecuária extensiva de apenas uma, algo somente possível porque o capim cresce muito em áreas de soja, Ferrarin é um exemplo do potencial da região do Médio-Norte do Mato Grosso, grande produtora de grãos mas com uma pequena produção de gado.

Essa iniciativa, entretanto, esbarra em questões financeiras, já que ainda não há oferta de gado suficiente para tal consórcio, uma equação que o governo brasileiro está tentando resolver com seus planos apresentados em Copenhague.

Uma equação que ganha mais uma variável com o reflorestamento. Com os investimentos adequados, há quem diga ser possível colocar, no meio da soja, do milho, do capim e do boi, plantações de eucalipto.

"Recentemente veio a silvicultura (reflorestamento) nesse processo... Tem ganho no bem-estar do animal (criado entre árvores) e um ganho econômico com a madeira legal. O produtor tem um fluxo de caixa o ano inteiro", ressaltou o presidente do CAT de Sorriso, lembrando que a integração lavoura-pecuária em um hectare rende o mesmo que cinco hectares de monocultura, sem contar a possibilidade de se vender crédito de carbono por aqueles que praticam o plantio direto.

Fonte WWW24horasnews.com.br

Um comentário:

  1. Valeu pela visita ao meu Blog. Seu blog ta show, estou seguindo vc.

    Abraço!!

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